13 de out. de 2011

O POLICIAL QUE NÃO MERECE O "POUCO" QUE RECEBE

fonte: danillo ferreira


É fato que a maioria das polícias brasileiras não remunera satisfatoriamente seus profissionais, pagando menos que o necessário para que estes tenham uma vida digna, pelo menos um pouco afastados dos riscos e vulnerabilidades que a profissão policial impõem. Por isso, as reivindicações por melhores salários são justas, uma vez observada a natureza da atividade policial. Mas será que todos os policiais estão em condições (éticas) de reclamar da remuneração que recebem?

A pergunta acima se torna pertinente quando analisamos o discurso de alguns policiais que, alegando os baixos salários, deixam de cumprir o papel que lhes é atribuído enquanto profissional de segurança pública. Segundo este entendimento, deixar de cumprir o dever serviria como uma espécie de retaliação à política salarial defasada das polícias. “Se não me pagam bem, também não me vejo na obrigação de trabalhar adequadamente”.

Trata-se de um raciocínio que, colocado na prática, leva a implicações curiosas: uma vez que o policial deixa de exercer seus deveres porque ganha pouco, está se colocando justamente no patamar salarial estabelecido pelo governo (ou até abaixo dele). Feito isto, está justificada a manutenção da defasagem salarial, simultaneamente à mediocridade profissional.

Mas será que desvirtuar o cumprimento da missão é uma prática posterior à defasagem salarial ou este é um discurso sustentado por aqueles que, em quaisquer condições, seriam omissos? Já que estamos falando de serviço público de natureza fundamental, que lida com vidas, liberdade e outras garantias, julgo que abraçar a inércia profissional é, antes, desvio ético do que medida reivindicatória, protesto por melhores condições salariais.

Precisamos pontuar que aqui não se faz apologia às perversidades dos governos com os profissionais de segurança, ao contrário: entendemos que mobilizações vigorosas e reivindicações explícitas devem ser feitas, diferentes da prevaricação omissiva disfarçada de resistência à desvalorização profissional. O cenário, entretanto, se apresenta com o misto de covardia para as reivindicações legítimas e preguiça (moral) para o desenvolvimento dos deveres. Daí por que muitos de nós sequer merecemos o salário que recebemos, por pouco que seja.

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