12 de jan. de 2011

UMA MULHER POR GUARNIÇÃO POLICIAL...

fonte: danillo ferreira


Um dos temas mais polêmicos nas discussões sobre segurança pública no Brasil é a presença das mulheres nas polícias. Apesar de todas as organizações policiais brasileiras já admitirem que parcela do seu efetivo deve ser feminino, ainda prevalece a cultura que desabona as mulheres enquanto profissionais de polícia, notadamente quando vislumbramos o perfil do policial ligado à linha de frente, à operacionalidade, ao serviço de rua. Como é costume no Brasil, o preconceito não se manifesta explicitamente, mas de modo velado e corrosivo. Discutir a questão, buscando entendimentos, é o primeiro passo para amenizar os danos que esta visão ocasiona.

Primeiro é preciso que identifiquemos a gênese da supervalorização do homem nas polícias. Tal sentimento está diretamente ligado ao que é a polícia para nós, às definições de qual deve ser o papel da polícia na sociedade, enfim, à identidade da polícia.

Por que conseguimos tão facilmente adaptar a ideia que temos da polícia à ideia que temos do masculino?

Provocados esses questionamentos no leitor, cabe ressaltar que a masculinidade em nosso mundo está fortemente associada à ideia de agressividade e de violência, observação feita por inúmeros estudiosos, intuitivamente fácil de conceber, e provada pelos números da violência em qualquer cidade do mundo. (Leiam “Violência e estilos de masculinidade”, de Fátima Regina Ceccheto, para um aprofundamento).

O perfil do macho, e sua virilidade, se adéquam facilmente ao perfil geralmente formulado para o policial. Quantos de nós, policiais homens, num simples gesto de cordialidade ou polidez já não fomos surpreendidos com a frase: “nem parece que você é policial…”?

Em poucas palavras, a exaltação do homem nas polícias está ligada a um conceito equivocado do que vem a ser a atividade policial. As políticas públicas, ou falta delas, que sucessivamente o Brasil tem visto no campo da segurança fortalecem a intervenção do senso comum na atuação policial, que acaba reproduzindo a cultura do homem macho, viril, agressivo, violento.

Em texto recente neste blog, a Aluna a Oficial PM e antropóloga baiana Luciana Prazeres disse que as policiais femininas brasileiras eram “destacadas como ‘bibelôs’ que salvaguardavam o caráter politicamente correto que o ambiente (policial) enseja”. Perfeita construção, que merece ser expandida, para mostrarmos quantos outros “bibelôs” temos nas corporações policiais brasileiras – o conceito de “Polícia Comunitária”, os “Direitos Humanos”, o “policiamento de proximidade” e “cidadão” etc.

Nada mais natural que neste contexto de equívocos, ignorado e exaltado inclusive por muitas mulheres policiais, as PFem’s sejam subempregadas, relegadas à atuação administrativa (sem desmerecer tal função), uma vez que elas mesmas são as primeiras a rechaçar a participação numa atividade tão viril quanto o policiamento de rua parece ser (o policiamento de ruados moldes atuais sofre a mesma impopularidade entre as mulheres que o balé sofre entre os homens, por motivos culturais/tradicionais).

Julgo que a atividade policial deva ser técnica, profissional, pautada em princípios de negociação e interação com os cidadãos. Eis o que é preciso ser entendido para que deixe de ser óbvio que todos os policiais devem ser do sexo masculino.

Uma boa medida para dar início a esta tendência, seria empregar pelo menos uma mulher policial em cada guarnição na rua. Intuo que os abusos e agressões em serviço diminuiriam significativamente. Mas é preciso lembrar que nós, homens, além de termos como valores a violência e a agressividade, temos também a sedução pelo poder. Deste modo, adotar medidas como a sugerida seria um risco muito grande, não acham?

*Este texto é uma exaltação à posse de Regina Miki como Secretária Nacional de Segurança Pública.

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