Nos últimos anos tenho acompanhado calorosos debates, perante a opinião pública, sobre o salário do profissional de segurança pública. Quanto deve ganhar? Qual o escalonamento entre as classes, categorias, funções e/ou cargos? A qualidade do serviço executado é proporcional à estrutura de recursos humanos disponibilizada?
Essa minha história começa lá no ano de 1993, na Academia Policial Militar do Guatupê, iniciando o Curso de Formação de Oficiais da Polícia Militar do Paraná. Grande motivo de orgulho pessoal e familiar, bem como reconhecimento da qualidade de ensino público. Contudo, ao sair dos bancos escolares e cair no “mundo real”, ou seja, no duro trabalho do dia-a-dia policial nas ruas, na companhia de valorosos soldados, cabos, sargentos e oficiais que estavam na linha de frente de combate ao crime e de investigadores e delegados da Polícia Civil que sobreviviam no meio do “caos” instalado nas delegacias, conheci e descobri a existência de “duas polícias” bem distintas.
Uma polícia imaginária, composta por supostos ideólogos, juristas, disciplinadores, catedráticos e autoridades, e, a outra, composta por homens e mulheres de “verdade”, que trabalhavam com abnegação e dedicação, mas que não eram reconhecidos e quase rotineiramente eram preteridos na realização de cursos e treinamentos, sem falar ainda nas promoções e convites para ocupar funções remuneradas.
O destino e os estudos acabaram proporcionando-me uma oportunidade ímpar em minha vida. Ingressar em 1997, por concurso público nacional, nos quadros da Polícia Federal (PF) e poder participar do maior projeto de recuperação de imagem, credibilidade e respaldo da opinião pública já realizado em um órgão policial até hoje. Um planejamento estratégico realizado por visionários, oriundos da base operacional da instituição, iniciou uma nova e moderna política de recursos humanos que mudariam profundamente a história da própria Polícia Federal. Concurso público, com exigência de nível de escolaridade superior para todos os cargos, salário digno e escalonado (inclusive dos cargos da base da PF agente, escrivão, papiloscopista), cursos de formação e reciclagem policial em níveis internacionais de qualidade e uma rigorosa corregedoria interna para punir e demitir policiais que não se enquadrassem no padrão de comportamento ético, moral e lícito defendido ferrenhamente na instituição.
Em poucos anos, o que para nós não era surpresa, os níveis de credibilidade da Polícia Federal decolaram. As grandes operações policiais de combate à corrupção, desvios de dinheiro público e narcotráfico eram o resultado visível daquela política de recursos humanos implantada com profissionalismo e respeito. O desmantelamento de cartéis colombianos, a prisão de Juan Carlos Abadia (um dos maiores traficantes de cocaína do mundo), a operação “Satiagraha” (que identificou milhões de reais desviados dos cofres públicos escondidos no exterior) e, finalmente, a prisão do governador do Distrito Federal (com “mensalões” em todos os níveis) são ações da Polícia Federal que medem o grau de eficiência através de políticas internas bem conduzidas e planejadas.
O governo do Paraná encaminhou para a Assembleia Legislativa, semana passada, um projeto de lei para reajuste do salário dos policiais prevendo aumentos ou recomposições em várias parcelas - algumas nos próximos governos, com as mudanças eleitorais em 2010, e outras vinculadas ao superávit das contas públicas. O deputado estadual Mauro Moraes tem razão. O aumento é importante e deve ser mantido. Mas, por que somente no último mês antes do impedimento do período eleitoral e a poucos dias de uma campanha eleitoral? Suas emendas parlamentares merecem consideração, pois fixam datas obrigatórias para os aumentos (independente de superávit do governo) e diminui o abismo entre a polícia imaginária e a polícia real com que sonhamos.
E as nossas polícias Militar e Civil do Paraná? Quanto vale um policial? O resultado da aplicação da mesma política de recursos humanos da Polícia Federal nas polícias estaduais trará resultados diretos na diminuição dos altos índices de criminalidade. O policial tem que ganhar um salário digno e proporcional a sua importância de mantenedor da segurança de nossa família.
fonte: fernando francischini
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