Comandante-Geral da PM, Coronel Luiz Rodrigo Larson Carstens |
O Estado - Qual é a sua avaliação de 2010?
Luiz Rodrigo Larson Carstens -Especialmente para a Polícia Militar foi um ano que vai marcar por muito a história da organização. Nós tínhamos uma necessidade decorrente das demandas da sociedade e das exigências que ocorrem no dia-a-dia. Há um conceito internalizado nas pessoas daquele tempo razoável no atendimento da ocorrência. A emergência pressupõe quase um relâmpago. Ligou e a polícia está lá. Mas temos difíceis variáveis geográficas, de circulação, de se locomover e chegar rápido. Foi um momento bastante importante da organização porque conseguimos passar para a instância de governo e da Assembleia Legislativa essas necessidades, que já teriam que ter sido resolvidas. Tudo isto foi transformado em leis, que permitiram um avanço, talvez ainda não sentido pela dimensão que isso representa. Inclusive vão facilitar as ações do futuro governo do Estado. Foi feita, por exemplo, a expansão do efetivo, atingindo a projeção ideal de 26.740 integrantes.
OE - Como foi realizada a reestruturação da carreira do policial militar e da organização?
LC - A partir da sanção das leis, já foram criados o Batalhão de Operações Especiais (Bope) -uma evolução da companhia de choque -, o Grupamento Aéreo Policial e o 7.º Grupamento de Bombeiros na região norte de Curitiba. Foi redefinida a questão da competência destes comandos. Até pouco tempo atrás, o Comando do Policiamento da Capital e o Comando do Policiamento do Interior, juntamente com o Corpo de Bombeiros, eram os três grandes comandos de execução da PM. Mas esses órgãos ficaram sem poder de reação, de reivindicação, de supervisão das atividades. Então foram criados os comandos regionais. Está sendo instalado na capital o 1.º Comando Regional, só falta a identificação. Tem o Comando Regional em Londrina, que era uma reivindicação para atender toda a região norte, e os comandos regionais de Maringá e da Região Metropolitana, em razão da perspectiva da criação de um batalhão metropolitano. Seria mais um na região - hoje tem em São José dos Pinhais -, para atender à elevada demanda operacional. A política deste ano, com estas transformações, foi de valorização do policial militar e do bombeiro militar. Com essas criações, criou-se nova perspectiva de motivação, de crença na instituição e na carreira.
OE - Entre as ações citadas está a criação do Bope. Por causa do filme Tropa de Elite e de tudo o que aconteceu recentemente no Rio de Janeiro, o batalhão está sendo muito comentado. Como será a atuação do Bope no Paraná?
LC - Cada estado tem a sua característica social, cultural, demográfica, urbana. Temos características diferentes. A população brasileira internalizou a imagem do Bope aparecendo dando tiro de fuzil. Essa não é uma regra no País. O Bope tem missões de controle de choque, controle de tumulto. Situações com características muito técnicas, que muitos policiais não estariam preparados naquele nível. O batalhão vem suplementando o que as viaturas normais executam no dia a dia. O que se mistura diariamente é que, em razão das demandas, o pessoal está indo para o primeiro esforço.
OE - Nós vimos no próprio Rio de Janeiro a união das polícias e de várias forças nas ações contra o tráfico de drogas. Como o senhor vê esse trabalho em conjunto?
LC - O modelo da segurança pública tem uma certa compartimentação quanto à competência. São crimes estaduais, federais. Recentemente neste cenário veio a competência das Forças Armadas na área de fronteira. Qualquer um desses órgãos, atuando isoladamente, terá dificuldades. Então, a integração é indispensável, em especial na área de fronteira. A Constituição diz que a competência da fronteira é da Polícia Federal (PF). Mas a PF teria muita dificuldade para fazer contenção da fronteira do País, que tem extensão territorial de 16 mil quilômetros. As pessoas imaginam que a droga, a arma e a munição entram no País pela fronteira do Paraná. Talvez a gente tenha a fronteira mais habitada do País, uma tríplice fronteira. Temos um trabalho integrado, com uma companhia voltada mais diretamente para estas questões. Estamos com o projeto para montar uma nova base na cidade de Foz do Iguaçu. O projeto Policiamento Especial de Fronteira (Pefron) é uma atividade preventiva e repressiva, idealizado pelo governo federal.
OE - Como o senhor avalia a Ação Integrada de Fiscalização Urbana (Aifu, que compreende ações coordenadas que podem fechar estabelecimentos comerciais), que também integra outros órgãos além da polícia?
LC - Esse é um assunto dos mais interessantes na segurança pública hoje. O cidadão convive com as notícias da segurança pública, mas não sabe analisar o que é causa e efeito. Analisa o crime sob a ótica da deficiência policial. Mas o crime não é produto da deficiência de uma estrutura policial. Por que os crimes acontecem notadamente à noite? Primeiramente, à noite as pessoas não são vistas ou observadas em detalhes. Isto facilita a impunidade. O poder de legislar sobre o funcionamento da atividade é municipal. A segurança pública é obrigação do Estado. Mas é o município que fornece alvará. As pessoas querem extravasar o estresse e circulam à noite nos serviços, que às vezes são desvirtuados quanto à sua natureza. Por exemplo, estes hotéis que facilitam a prostituição, que daqui a pouco facilitam a pedofilia, questões de drogas.
OE - Como o senhor definiria o peso das drogas na violência e na sensação de insegurança da população?
LC - A droga atual, que é o crack, tem um peso muito forte na criminalidade como um todo. O crack, em primeiro lugar, deixa a pessoa viciada. Depois ela acaba com seus bens, depois os de sua família. Na quarta fase, o viciado é um andarilho, que vai com foco no furto e do roubo. É uma pessoa que vai se prostituir, moralmente e fisicamente. E que passa a ser marginalizada pelo sistema social. Vai se reunindo com comunidades pelas ruas, nos semáforos. Isto tem aumentado e não é privilégio daqui. São os marginalizados pelos efeitos das drogas que se reúnem à noite para dormir, que vão perturbar a vizinhança. Isso aumenta a sensação de insegurança. Agora, o que fazer com estas pessoas? Elas, em um momento de uma crise, podem matar. Como já mataram. É um desafio para a sociedade e o poder público encontrar uma solução para isso. Não é mais um problema policial. Lógico que a polícia tem que fazer prevenção. A pedra do crack consumido custa muito caro para a sociedade. São R$ 10, mas vão custar um assalto, um homicídio, um furto.
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