Crer sempre nos homens é arriscado para qualquer policial, podendo levá-lo à perda da própria vida. Descrer sempre nos homens, por outro lado, deve ser evitado, pois corre-se o risco de cometer sérias injustiças. É neste fio quase intocável que todo policial deve caminhar, e dele deriva boa parte da complexidade da atividade policial: um meio termo que deve ser exercido ininterruptamente, exigindo atenção, disciplina emocional e autocontrole. Casos como o que se mostra a seguir, onde dois moradores de rua encontraram cerca de R$ 20 mil que foram roubados de um restaurante, são exemplares na demonstração de honestidade e boa vontade.
Mas o que ocorreria se policiais, após realizarem buscas, encontrassem o casal com o dinheiro, momentos antes de entregá-los à polícia? E se, por algum sentimento de injustiça, um dos dois se exaltasse contra os policiais, e os desacatasse? Sabemos bem o que a lei prevê para casos do tipo. E sabemos bem que nem sempre é simples e trivial aplicar a lei. De qualquer modo, trata-se de um belo e simbólico caso para se analisar. Felizmente, tudo acabou bem:
Os proprietários do restaurante japonês que foi furtado na madrugada desta segunda-feira (9) ofereceram emprego para o casal de moradores de rua que encontrou, e devolveu, os R$ 20 mil levados pelos ladrões. O crime aconteceu no Tatuapé, na Zona Leste de São Paulo.
O casal estava sob um viaduto da Radial Leste quando ouviu o alarme de uma empresa de ferragens disparar. Em seguida, os dois foram verificar do que se tratava e encontraram um malote e um saco plástico de lixo repletos de dinheiro. Eram cerca de R$ 17 mil em notas e R$ 3 mil em moedas. De posse do dinheiro, os moradores de rua procuraram um segurança da empresa e pediram para ele chamar a Polícia Militar.
Um dos sócios do restaurante invadido, Miguel Kikuchi, de 42 anos, disse não ter acreditado quando a polícia ligou e o informou que o dinheiro havia sido encontrado e devolvido. “Pensei que era trote”, afirmou.”
Comovidos, os proprietários fizeram duas propostas: bancar a viagem dos dois para o Maranhão ou para o Paraná, onde cada um tem família, ou oferecer condições para que ambos saíssem da rua.
O casal, que trabalha catando material reciclável nas ruas da capital e vive há mais de um ano na rua, decidiu na hora pela proposta de emprego. “Vou ganhar treinamento para me capacitar e aprender alguma coisa”, disse Rejaniel de Jesus Silva Santos, de 36 anos. “Da limpeza até a cozinha, posso trabalhar onde quiserem.” O homem contou que era auxiliar de limpeza antes de ir morar na rua. “Eu perdi o emprego e tive que vender minha casa, na Divineia, região de São Mateus [Zona Leste].” É inimaginável que alguém faria uma coisa dessas. Difícil de acreditar.”
Depois de devolver o dinheiro, Santos e a mulher, Sandra Regina Domingues, também com 36 anos, foram levados até o restaurante japonês e fizeram uma refeição bem brasileira: bife, arroz, feijão e batata frita. “Uma vez na vida eu me lembrei que sou gente. Há tanto tempo eu não me sento para ter uma refeição tão boa.”
Rejaniel contou que ganha, em média, R$ 100 por mês. Com esse “salário”, para juntar os R$ 20 mil teria que trabalhar mais de 16 anos e meio, sem gastar nada. “Melhor ter o seu dinheiro suado do que usar um dinheiro roubado”, afirmou.
Apesar de estar feliz com a proposta de emprego, Sandra disse que se sente apreensiva. “Me ameaçaram depois que devolvi o dinheiro.” Por questão de segurança, o casal não voltará para o viaduto que usava como lar nos próximos dias. “Não quero voltar nunca mais para lá”, completou a mulher.
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fonte: g1
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